Segunda, 04 Junho 2018

Descaso do Poder Público aumenta dor de famílias de desaparecidos; veja quadro

A cada dia três crianças ou adolescentes desaparecem em Mato Grosso. O dado alarmente é uma projeção feita pela Comissão de Ação Social do Conselho Federal de Medicina (CFM) com base nos registros de ocorrências de autoridades policias do Estado. Só nos dois primeiros meses deste ano, 130 crianças e adolescentes foram dadas como desaparecidas em Mato Grosso, 32 delas apenas em Cuiabá.

Os números foram apresentado durante II Seminário sobre Crianças Desaparecidas realizado pelo CFM com apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-MT), em Cuiabá, no dia 23. Os registram também apontaram que nos últimos dois anos, 1588 pessoas entre 0 a 17 anos desapareceram no Estado, sendo que 338 desaparecimentos foram registrados na capital. A maioria dos casos envolve meninas. Em Mato Grosso 75% dos desparecidos são do sexo feminino e 25%, masculino.

Os pais do menino Flávio Henrique da Silva, desparecido no dia 18 de janeiro de 2015, no Distrito de União do Norte, em Peixoto de Azevedo (a 675 km de Cuiabá), buscam até hoje por Flavinho, como é chamado pela mãe, Silvana Aparecida da Silva e pelo pai o pastor de uma igreja evangélica, Flávio da Conceição Silva.

A mãe recorda que a família estava em um sítio do avó do menino e quando se preparavam para ir embora não encontraram Flavinho, acionaram a Polícia Militar. Os militares e homens do Corpo de Bombeiros fizeram buscas pela região, mas sem sucesso. Passados 3 anos e 4 meses são obrigados a sobreviver com a dor da incerteza e o descaso das autoridades. “Só conseguimos seguir a vida porque temos fé, temos mais dois filhos, um de 15 e outra de 12 que precisam de nós e por eles temos lutado para permanecer firmes, sempre com a esperança que um dia encontraremos o Flavinho”, resume Silvana.

Silvana diz que os dias têm sido difíceis e a dor não passa. “Estamos convivendo com a falta dele não existe um dia em que não pensamos nele, em que não choramos por ele e uma sensação inexplicável, nada pode comparar a esse sentimento só quem vive essa dor sabe do que estou falando, mas a vida continua e eu pretendo permanecer de pé e um dia poder abraça meu filho de novo”, afirmas.

Uma das revoltas da família é como o caso vem sendo tratado pelas autoridades. “Já fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas infelizmente a polícia só trabalho se a família levar alguma coisa para eles, caso contrário eles vão ‘empurrando com a barriga’ até arquivar o caso. O caso do meu filho ficou parado um ano em Peixoto, foi para Cuiabá em 2016, mas sem sucesso e há uma semana foi encaminhada para o MPE de Peixoto para decidir se será arquivado”, critica.

A mãe revela que o caso do Flavinho foi tratado com descaso desde o inicio. “Só depois de um ano do desaparecimento que o delegado que estava em Peixoto chamou o suspeito de ter raptado meu filho para depor e a palavra dele teve mais valor do que a de qualquer outra pessoa, pois testemunhas afirmaram terem visto ele com meu filho, ele simplesmente disse que era um sobrinho dele e foi liberado. Nunca foi sequer preso”, afirma.

Desde o desaparecimento, a família tem feito campanha nas redes sociais com o intuito de encontrar Flavinho, mas até isso é alvo de trotes. “Muitas informações furadas com pessoas brincando com a situação”, lembra Silvana.

Mães da Sé
Durante o Seminário sobre Crianças Desaparecidas a presidente da ONG Mães da Sé, de São Paulo, Ivanise Esperidião compartilhou a experiência de 22 anos e 5 meses de busca por informações sobre a filha, Fabiana Esperidião, desaparecida no dia 23 de dezembro de 1995. O relato dela é semelhante ao de Silvana, de dor, desrespeito e descaso das autoridades.

“Na época que minha filha desapareceu, aos 13 anos, ninguém falava sobre o assunto. O delegado plantonista não quis fazer o BO porque não tinha dado 24h e ainda debochou: volta para casa mãe, sua filha deve estar curtindo com namoradinho e amanhã retorna”, lembrou com a voz embargada.

Ivanise conta que no dia do desparecimento, a filha saiu com uma amiga da mesma idade para ir a uma vizinha a 300 metros da residência da família por volta das 20h. Ficaram por 20 minutos na colega e retornaram. Em certo ponto do trajeto se separaram, a 120 metros da casa de Ivanise. “Nesse espaço que ficou sozinha ela desapareceu. Minha filha era caseira, sempre avisava onde ia. Fui pra casa e não consegui dormir, por volta às 3 da madrugada chamei meu marido e fomos para delegacia, onde enfrentei o primeiro desafio”, revela Ivanise.

A presidente da ONG diz que cansou de bater nas emissoras de TV e dos jornais de São Paulo e a resposta era sempre a mesma. “Este assunto não está em pauta”. Para a mãe, o descaso com os desaparecidos se deve por que a maioria das vítimas é de classe baixa. “Achei que não ia suportar sobreviver sem minha filha. Retirei forças ao encontrar outras mulheres na mesma situação, em busca de informações sobre seus filhos desaparecidos. Participamos da novela Explode Coração, quando a autora Glória Perez abordou o tema”, relembra.

Depois da novela, Ivanise e outras mães fundaram a ONG, hoje mais de 10 mil casos já contaram com ajuda da organização. “Com essas famílias dividi minha dor e cada pessoa encontrada vejo minha filha”, declara. “O que nos mata a cada dia é a incerteza de não saber o que aconteceu com nosso filho e o descaso do Poder Público”, confessa. “Eu não perdi a esperança de encontrar minha filha”.

Seminário
Representantes dos CFM e CRM, MPE, Polícia Judiciária Civil, Sociedade Brasileira de Pediatria e associações de desaparecidos participaram do seminário para ampliar as discussões sobre um drama que se multiplica no Brasil: os casos de crianças e adolescentes desaparecidos.

De acordo com dados compilados pelo CFM, estima-se que, no mundo, o total de casos de desaparecimento de crianças e adolescentes chega a 25 milhões. “O número de crianças desaparecidas é muito maior do que as pessoas imaginam. No Brasil há uma estimativa de que sumam 50 mil por ano. Por isso é tão importante que os profissionais notifiquem qualquer tipo de alguma situação que possa indicar alguma irregularidade. Defendemos o lugar dos médicos junto à população”, ressaltou o diretor do CFM, José Fernando Vinagre.

O órgão tem procurado, de forma isolada, enfrentar o problema criando mecanismos de identificação e políticas públicas. “A proteção da criança e do adolescente é muito recente no país e precisa ser priorizada. Discutir esse tema significa mexer com feridas e no financeiro do país. Não temos discursos partidários, mas enfrentamos um descaso do Estado brasileiro neste tema”, defendeu o integrante da Comissão de Ações Sociais do CFM, Ricardo Paiva, ao afirmar que menos de 50 instituições no mundo trabalham para impedir o desaparecimento.

Paiva também chamou atenção que no país ainda não há um cadastro atualizado com dados e informações dos menores. “O cadastro brasileiro é totalmente desatualizado e pouco priorizado. Sem essa divulgação oficial, fica impossível buscar uma criança que não tenha nome ou rosto”. Segundo ele, da forma que é proposto hoje também não funciona: “não dá para aguardar os pais incluírem o caso, isso deve ser feita imediatamente por um policial. Muitos pais podem inclusive estarem envolvidos diretamente com esse desaparecimento”, alertou.

CRM -MT aderiu a campanha e enviou uma carta de orientação a todos os médicos pedindo que fiquem atentos ao comportamento de pacientes atendidos nos consultórios para detectar crianças que foram retiradas das famílias.

O médico é orientado a observar o comportamento, tanto da criança atendida, quanto dos responsáveis que as acompanham, assim como as características físicas, documentação e empatia entre os familiares. “Queremos contribuir para que sejam desenvolvidas políticas não apenas de prevenção, mas de busca dessas vítimas, com um banco de dados que funcione e que seja aceito internacionalmente”, disse a presidente do CRM, Maria de Fátima de Carvalho Ferreira. Segundo ela, outro propósito da campanha é despertar a sociedade para o fato de cada indivíduo poder impedir o tráfico de pessoa.

DHPP
Segundo a Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), apesar do número de registros de desaparecido ter crescido se comparado os anos de 2017 e 2016, o índice de localizados é 92%, o principal motivo é conflito familiar. Os dados são do Núcleo de Pessoas Desaparecidas, que completa 17 anos de atividade em 2018 e só atende casos da região metropolitana.

MPE
A reportagem do RD News procurou a Promotoria de Justiça da Comarca de Peixoto de Azevedo para saber sobre o andamento do caso menino Flávio Henrique da Silva, hoje com 5 anos. A assessoria da promotoria disse que iria verificar a situação, mas não retornou até o fechamento do material.

Fonte: RD News

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