Para dar mais força às reivindicações das famílias, o debate foi feito como uma “mesa invertida”, com as autoridades no plenário e as mães e pais de crianças desaparecidas na mesa. A líder do Movimento Mães de Desaparecidos do Rio de Janeiro, Luciene Torres, que não sabe do paradeiro da filha há oito anos, relatou a dificuldade que tem para que a investigação seja feita. Segundo ela, a Lei 11.259/2005, que incluiu no Estatuto da Criança e do Adolescente a determinação de busca imediata nos casos de desaparecimento, ainda não é difundida nem cumprida.
“Continuamos na mesma. Precisamos contar com o apoio da mídia, todas as mídias. Já fui em vários programas, mas continuo sem minha filha. Está sumindo criança todo dia e a FIA não dá conta sozinha. O delegado que me atendeu pediu pra eu buscar pistas e levar pra ele. A gente tem que virar detetive. A última informação que eu tive da minha filha é que o homem que levou ela subiu a Serrinha com a ela e a bicicleta dela, mas voltou sem a minha filha e sem a bicicleta. E o delegado só me pedindo mais pistas”.
Já Neli Adriana da Silva, que também integra o movimento, conseguiu localizar a filha depois de cinco meses de angústia, em 2011. Ela conta que a menina, então com 14 anos, não voltou do colégio e, depois de três dias procurando por conta própria, resolveu registrar a ocorrência na delegacia, sendo orientada a procurar em hospitais e no Instituto Médico-Legal (IML) primeiro. E só quando foi ao IML recebeu a orientação de procurar um órgão especializado, que era a FIA. “Vim no dia seguinte, fui bem acolhida e comecei a ter esperança”, afirmou.
A experiência de Neli demonstra a importância da divulgação dos casos de desaparecimento na imprensa. “Eu queria ter voz, minha esperança era ir para a mídia para encontrar minha filha, então consegui uma reportagem. O caso foi divulgado em jornais e tive apoio psicológico. Em um dia 7 de novembro, minha filha foi localizada. Na época eu não falei o porquê, mas ela desapareceu por questões familiares, eu estava com problema com meu marido e ela saiu de casa. Hoje ela está com 20 anos e está bem, mas fica o trauma na família, ela se sentiu culpada”.
De acordo com a presidente da FIA, América Teresa do Nascimento Silva, o 25 de maio é um dia de luta e uma oportunidade para discutir a questão e ampliar a visibilidade dos casos não solucionados. “Vamos produzir um relatório com esses depoimentos que estamos ouvindo. Vou fazer uma reunião com o secretário de Segurança Pública sobre isso, para que a gente possa conversar com os delegados. Precisamos ter atitude, o governo dá as ferramentas, a gente precisa saber usar. O nosso secretário Pedro Fernandes nos dá a oportunidade de trabalhar, então com esses relatos, vamos atrás de tomar as atitudes que, por ventura ainda não tenham sido o suficiente. Para que a gente não deixe só as mães agirem. A gente precisa agir também, elas precisam de socorro”.
A defensora pública estadual Eufrasia Maria Souza, da Coordenadoria de Defesa das Crianças e Adolescentes da Defensoria Pública do Estado do Rio, também participou do debate. Segundo ela, o órgão deve ser procurado nos casos em que a família tiver dificuldades em acompanhar o processo e cobrar o andamento.
“A Defensoria Pública já acompanha, há algum tempo, em articulação com a FIA, a situação de algumas crianças desaparecidas. As mães ficam sem nenhum tipo de suporte e a Defensoria Pública procura dar essa assistência jurídica, por exemplo, de saber informação da delegacia, de fazer o acompanhamento do inquérito. Soubemos de caso em que a delegacia pedia informações para a mãe, então a gente ajudava a família a conseguir as evidências”.
Segundo as estatísticas do SOS Criança Desaparecida, com dados acumulados dos últimos 22 anos, o estado do Rio de Janeiro teve 3.446 crianças desaparecidas nesse período e 523 pessoas continuam sem localização. Do total, 2.923 foram localizadas (84,82%) e há o registro de 62 falecimentos. Dos localizados, 77,15% foram casos de fuga do lar; 8,38% de crianças perdidas; 5,13% de sequestro; 5,58% de subtração de incapaz; e 2,43% de conflito de guarda.
Fonte: Agência Brasil